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FUTURO DO FUTURO - Uma forma de conjugar a ficção e o amanhã

Por: Marcelo Baglione  

Em: 09/05/2018 19:40

Andre, boa noite. Cara, eu vou amarrar todas estas imagens e mais outras, logo que iniciar a Metropolis - V. Nada aí foi escolhido aleatoriamente. Acho que você e todos que leram vão gostar de saber, de conhecer a lógica que une tudo isso. Vou falar de Metropolis aos poucos, pois é um filme muito profundo e que merece ser observaddo em várias vistas. Abração fraterno, Marcelo Baglione
Oi Marcelo, tudo bem?

Estou acompanhando e vou ficar no aguardo das próximas mensagens para conhecer a lógica das ótimas imagens que postou.

Abração e tudo de bom.

André Vieira
Andre e demais colegas, bom dia. Vamos ver se consigo escrever, ainda hoje, Metropolis - V e iniciar o nosso debate e reflexões de tendências, ok? Abração fraterno, Marcelo Baglione
Metropolis - V

Metropolis é uma produção germana de 1927 sob a direção do genial Fritz Lang. É tido como o primeiro filme de ficção científica da história do cinema, nos primórdios do século passado.

Confesso que se por um lado é delicioso, prazeiroso discorrer e tentar compreender Metropolis, por outro é altamente complexo analisar esta obra-prima do cinema que não é somente de ficção, mas é profética-visionária, também.

Antes de dar continuidade, gostaria de lhes dar uma sugestão. Se vocês quiserem saber o que significa e quais as consequências da chegada de um psicopata - nato! - ao poder, assistam a série Dr. Mabuse: Dr. Mabuse (1922), O Testamento do Dr. Mabuse (1933) e Os Mil Olhos do Dr. Mabuse (1960), todos do mesmo Fritz Lang. Não assistam estas jóias do cinema, apenas; estudem elas, pois mostram a catástrofe que é a chegada de uma casta de psicopatas ao poder, governando uma nação. Conheçam o Dr. Mabuse e todos entenderão um pouco melhor o Brasil dos últimos 14 anos.

Muitas vezes é chato fazer ou tentar criar sínteses inúteis ou, como gosto de dizer, "pilulares" - tal qual pílulas. No entanto, gosto de pensar na obra Metropolis como uma "distopia-entrópica-herodiana". O próprio filme mostra isso, respectivamente, bem no início; na crítica que leva este ideal ao caos; e, no final, a loucura coletiva - sempre das massas histéricas - que quase terminam por vítimar, sim!, a verdadeira síntese do futuro e de todo o amanhã: as crianças.

Impressiona-me bastante, do mesmo modo, a dramaticidade gestual da "Falsa Maria" ou o contraponto da "Maria profetiza", fruto da criação do inventor-cientista Rotwang. O robô Maschinenmensch, malignamente, extraí um clone sombrio de sua refém, Maria Profetiza. Portanto,  Rotwang é totalmente obcecado e, por sua vez, obssediado ao projetar em sua Maschinenmensch, todo o seu complexo amoroso pela Hel, uma amor perdido para o seu chefe todo poderoso.

Quando digo "dramaticidade gestual" é porque a Falsa Maria (a atriz Brigitte Helm) consegiu antecipar, em mais de meia década, a performance de Hitler em seus famosos discursos de ódio, sedução e farta sedição coletiva. Falsa Maria consegue seduzir as massas com seus discursos e toda uma fala corporal que lembra totalmente Hitler, só que seis anos antes de sua ascenção em 1933, levando o nazi-fascismo ao poder na Alemanha.

Há uma passagem de C.G.Jung que cabe perfeitamente para este caso, bem como para os dias de hoje; sem maiores cerimônias, para o nosso país, o Brasil. Ler Jung e a gênese de sua obra é algo, a meu ver, essencial à compreensão psicológica e histórica de Metropolis.

"Hitler nunca logrou uma relação saudável com essa figura feminina, a que eu chamo anima. O resultado é que está possuído por ela. Em vez de ser verdadeiramente criativo, ele é, por conseguinte, destrutivo. Eis uma das razões pela qual Hitler é perigoso: ele não possui em seu íntimo as sementes da verdadeira harmonia."
(C.G. JUNG: Entrevistas e Encontros - Jung Diagnostica os Ditadores, 1939)

A Falsa Maria, por conseguinte, era um segredo que somente seu criador maldito, Rotwang, sabia porque as massas, agora controladas por ela, não sabiam que aquilo a que seguiam cegamente era um robô ou melhor: um andróide que atravessou um processo de transfiguração, assumindo, fielmente, uma cópia perfeita de Maria Profetiza; porém, no fundo, imagem e semelhança de seu criador ou o mal encarnado em Rotwang.

Lembremos que a palavra "androide", etimologicamente falando, tem raiz latina, onde "andro" = homem e "eidos" = imagem, aparência. Esta definição possibilita um entendimento ainda melhor do sisma mostrado por Fitz Lang, nesta obra cinematográfica sem par até os dias de hoje. Digo sisma, não somente no sentido de ruptura sociopolítica, mas principalmente psíquica- tanto do indivíduo como da sociedade enquanto massa manipulada.

A cidade de Metropolis tem uma divisão elementar! Acima a visão da perfeição, de uma urbe apolínea, futurista com todo o seu progresso, porém graças à miséria do inframundo desta mesma localidade que é sustentada por uma política de opressão e subjugação da classe industrial-operária que não passa de um segmento produtivo-escravo, necessário a todo o desenvolvimento e evolução pacífica do ideal Metropolis.

Pois bem. Foi precisamente o androide Maschinenmensch, também chamada de Futura que se tornou o fator decisivo na crise de ruptura de Metropolis: o conflito entre o inframundo da classe trabalhadora e o estado totalitário da superfície.

Como estou discorrendo sem obrigações ou compromissos, redijo de forma fragmentária. Logo, vou dar um pulo e avançar muitos minutos, nas mais de 2 horas de Metropolis, para apontar um detalhe importantíssimo em relação ao androide Maschinenmensch, Futura ou Hel, como também é conhecida.

As obras de Hieronymus Bosch (1450-1516) e Pieter Bruegel (1525-1569) que fiz uso, teve o propósito de mostrar que já no início do século passado, Fritz Lang já mostrava que o "hibridismo" seria uma vertente - como se tornou - na indústria cinematográfica voltada à ficção científica.

Ao fazer uso das imagens do clássico Frankenstein (1931) e da escultura Prometeu (1762), estava querendo dizer que, além do hibrismo, o mito do "homem-Deus" sendo criado pelo próprio homem é um arquétipo e constante na equação das produções vindouras. Dar vida e mente a um ser feito, agora, a nossa própria imagem e semelhança é uma ambição científica e um caminho de exploração criativa e artística.

Agora, nos falta somente uma imagem, rs. É a foto que mostra a dupla Tahei & Matashichi da obra The Hidden Fortress ou Fortaleza Escondida (1958), pois, para quem não sabe, foi este filme de Akira Kurosawa que terminou por inspirar a mais famosa dupla de toda a história da ficção científica: R2-D2 & C-3PO de Star Wars (1977), o Gordo e o Magro (Laurel and Hardy) do futurismo.

Mas não para por aí, não!

O androide Maschinenmensch de Metropolis, inspirou o gênio ilustrador e designer de Star Wars, Ralph Angus McQuarrie (1929-2012), a criar o engraçadíssimo e não menos famoso (Magro) da dupla de androides, o C-3PO. Não se enganem! C-3PO, também é fruto da inspiração sobre o personagem o Homem de Lata (Jack Haley) da magnífica obra ficcional, O Mágico de Oz (1939), uma outra preciosidade atemporal do cinema do século passado. Aliás, C-3PO ou Threepio (3PO), nada mais é do que um acrônimo de Class Three Protocol Operative.

P.S.: A imagem que ilustra este texto é do, hahahahahaha, cientista maluco que concebeu o androide Maschinenmensch, ao fundo, que viria a se transformaria na Falsa Maria.

(Continua em Metropolis - VI, onde vou publicar alguns sketches e imagens para compararmos tudo, ok?
Metropolis - VI

Como tinha prometido, vou postar algumas imagens interessantíssimas, onde você pode constatar o quanto Star Wars (1977) foi definitivamente influenciado, meio século após o lançamento de Metropolis (1927) de Fritz Lang.

Na primeira imagem, se vê, lado a lado, Maschinenmensch & C-3PO.

O androide Maschinenmensch do filme Metropolis, criação prometeica do cientista maluco, o personagem Rotwang, foi representado, como já disse, pela atriz alemã Brigitte Helm. No entanto, não podemos nos esquecer! Maschinenmensch foi concebido ou criado pelo escultor alemão Walter Schulze-Mittendorf (1893-1976). Este artista fez questão de que Maschinenmensch fosse um modelo mais rígido, como uma forma de tornar ele e seus movimentos mais realistas; o que terminou gerando um trabalho extra para a atriz Brigitte Helm que praticamente se desdobrou por três, ao atuar como Maria Profetiza, Falsa Maria e o robô Maschinenmensch - chamado também de Futura, Parody ou Robotrix. Infelizmente, o modelo original de Maschinenmensch - que era de plástico trabalhado com outros materiais e finalizado com tinta prata - não existe mais,  desapareceu. Argumenta-se que seu sumiço foi um reflexo do período histórico do cinema que ainda não tinha o cuidado ou a preocupação e a cultura de preservar conteúdos à posteridade, já que esta arte ainda estava florecendo em sua alvorada. Num pedestal de madeira, onde se encontra hoje no Cinémathèque française, as medidas exatas desta cópia são as seguintes: 181 x 58 x 50 cm.

Agora, na mesma imagem, à direita, o nosso queridíssimo e sempre engraçado Threepio ou C-3PO.

É importante saber, também, que o filme Metropolis foi inspirado no romance do mesmo nome, escrito pela atriz alemã Thea von Harbou (1888-1954) que foi mulher de Fritz Lang, com o qual redigiu os roteiros do filme. O curioso é o rumo que a vida de ambos tomou. Já separados e antes da ascenção de Hitler em 1933, Thea se filiou ao partido nazista. Já Fritz Lang que não era bobo nem nada, ainda mais após o lançamento de O Testamento do Dr. Mabuse (1933), não teve outra alternativa que não fosse fugir da Alemanha - enquanto não era tarde. Terminada a Segunda Grande Guerra, Thea von Harbou se tornou prisioneira britânica e passou a realizar trabalhos forçados neste país.

Quem poderia imaginar que Thea von Harbou se tornaria, no... "futuro", vítima de sua própria inspiração: Metropolis como visão e exemplo dos futuros Estados Totalitários. O totalitarismo que a levou à miséria e ao esquecimento.

Na segunda imagem, um dos primeiros sketches de Ralph Angus McQuarrie, já mostrando a dupla de androides R2-D2 e C-3PO. Notem, entretanto, o quanto o personagem C-3PO está carregado, ainda, com as marcas e os traços de sua fonte inspiradora, o robo de Metropolis Maschinenmensch.

Na terceira imagem, praticamente o mesmo sketch de Ralph McQuarrie, só que colorido. Show! Muito lindo!

Na quarta imagem, a outra fonte de inspiração para o C-3PO: O Homem de Lata (Tin Man) de O Mágico de Oz (1939).

(Continua em Metropolis - VII)
Oi Marcelo, tudo bem?

Gostei muito da descrição de Metropolis, também da indicação do Dr Mabuse, que já ouvi falar mas nunca assisti, agora fiquei com vontade pelo que você falou do Brasil nos últimos 14 anos.
Deve ser por causa do Dr. Mabuse que o nome Fritz Lang não é estranho para mim, já li alguma coisa sobre ele e essa obra.

Achei muito interessante o paralelo que fez da Falsa Maria com Hitler, assim como o paralelo do androide com a ambição humana de criar o "homem-Deus", pois hoje estão se dedicando com afinco nisso na área da AI.

Mas o mais legal mesmo foi saber que as personagens do filme do Akira Kurosawa inspiraram a criação do R2-D2 e do C3PO!

Adorei as imagens dos Concepts do C3PO e R2D2, além do ótimo texto histórico!

Abração e tudo de bom.

André Vieira
Andre, boa noite. Aqui estou eu, catando seus comentários ou respostas, hahahahaha.

Muito, muito obrigado pelo comentário e compreensão a respeito destas minhas intenções nestes extratos sobre Metropolis.

Olha, há tanta coisa a ser dita sobre este filme que vou escolher um tópico, um único aspecto e redigir a reflexão, Andre. Nesta abertura, acho que falei até demais, mesmo que de forma bem resumida. O importante é que acho que consegui mostrar um pouco da relação de Metropolis com Star War. Mas acho que consegui, do mesmo modo, falar, também de modo sumaríssimo, sobre alguns traços sociopolíticos de Metropolis.

Acho que algumas pessoas que por ventura venham a ler, possam dizer... "Cadê a ficção científica grossa, na madeira, hem? Por que tanta política?" Eu ainda nem enchi o saco com as visões proféticas do Jung em relação as Primeira e Segunda Guerras, rs. Considero de vital importância conhecer estas passagens biográficas do Jung, como uma via alternativa de mais compreensão de Metropolis, Andre.

Esta obra-prima é sociopolítica-espiritual-ficcional científica e profética.

No meu modo de ver, Blade Runner (1982), uma obra cinematográfica que estabeleceu mais um novo paradigma é Metropolis na veia. Só não vê quem não quer.

Quanto ao Dr. Mabuse, se não estiver errado ou exagerando é possível que você possa ter tido contato com esta obra ou série monumental - uma aula de psiquiatria forense e estratégia de dominação goebbeliana - através do Olavo Carvalho, pois nunca vi ninugém falar desta obra do Fritz Lang que não fosse ele.

Na parte Metropoli - VII, venho com novidades.
Abração fraterno,

Marcelo Baglione
Andre, boa noite,

Me veio uma sacação incrível a respeito da "constante" de orientais e da Ásia na ficção científica, mas só vou abordar isso, após fazer mais algumas intervenções a respeito do Metropolis. Não é uma hipótese, pois diz respeito a uma realidade econômica. Logo que der, vou comentar esta variável na ficção em inúmeras obras, sendo que algumas são emblemáticas.
Abração fraterno,

Marcelo Baglione

P.S.: A ilustração é do personagem Charlie Chan, uma obra policial-ficção que teve como seu primeiro ator, o sueco Warner Oland (1879-1938).
Oi Marcelo, tudo bem?

A gente só conversa em duas seções do fórum basicamente, essa de grupos de estudo onde está o tópico do futuro e no de comentários das notícias.
Eu encontro as mensagens entrando nestas duas seções, as outras duas que frequento são a de respostas de maquete e de respostas de CG, praticamente não entro nas outras.

Sobre a sua descrição do filme, eu entendi perfeitamente bem a trama, com uma socieade no submundo que mantém a sociedade utópica e esta cria a Falsa Maria para controlar tudo.
Claro que é uma sítese bem simples de um filme complexo, mas me serviu para enteder a trama e percebo muitos outros filmes que foram baseado nela, sem falar no Star Wars que você comentou tão bem e Blade Runner que citou na mensagem seguinte, mas até Matrix parece vir dai.

Entendo também o sentido profético e sociopolítico que falou, igual acontece com o livro 1984, Revolução dos Bichos e similares.

Sobre o Fritz Lang, se o professor Olavo costuma falar dele, então, é certeza que ouvi em algum vídeo dele.

Vou ficar no aguardo da postagem com as outras reflexões sobre Metropolis e sobre os orientais na ficção científica.

Abração e tudo de bom.

André Vieira
Andre, tranquilo? Olha, achei por bem trazer o meu comentário que fiz à sua publicação Animação automática de quadrúpedes para cá.

Andre, bom dia. Sabe o que mais me chamou atenção, além do vertiginoso progresso? É da comparação com a concepção do que poderia vir a ser um robô nos anos 30, como em Metrópolis e à animação nos dias de hoje. O vetor aponta, já há muitas décadas, para uma maior união e perfeição que torne o processo de motricidade de um robô ou de um androide o mais parelho possível ao do ser humano.

Lembra que eu citei que o criador do androide Maschinenmensch de Metropolis, Walter Schulze-Mittendorf (1893-1976) queria movimentos contidos e lentos deste personagem? Ele estava errado? Claro que não! Este foi o modelo que vigorou por várias décadas, mas os filmes de ficção nos dias hoje, nos apresentam unidades de inteligência artificial ou androides e robôs com uma cinética e todo um conjunto de neuro motricidade de animação precisamente igual a do ser humano. MUITO INTERESSANTE esta sua publicação, Andre. Parabéns. Abração fraterno, Marcelo Baglione.

P.S.: Para ilustrar essa questão da cinética e da motricidade em si de um organismo robótico, já além da metade do século passado, escolhi o personagem Robô, da série de ficção científica norte-americana que fez um enorme sucesso aqui no Brasil nos anos 60, Perdidos no Espaço (1965-1968). Quando detectava qualquer situação de perigo, ele soltava o seu famoso bordão, "perigo, perigo", demostrando toda a sua disritima corporal. Era muito cômico!

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